O espinho no pé!

Nunca vi alguém ir para um protesto e gritar com plenos ares dos pulmões: “EQUILÍBRIO!”

Também jamais assisti a alguma manifestação (individual ou coletiva) que expressasse o desejo por “soluções técnicas”.

Gostaria imensamente de ouvir brados clamando por “inteligência”, “estratégia”, “capacidade gerencial” e por “objetivos claros e exequíveis”.

Mas vejo muita gente berrando fora esse, fora aquele, isso não, assim não, aquilo não e essa quantidade de “nãos” que leio e ouço diariamente me parece assemelhada a um espinho que tenha entrado no pé de alguém, precisa ser removido e assim que é tirado acarreta um “alívio imediato” (nome de uma música dos Engenheiros do Hawaii), mas não finaliza a sucessão dos fatos posteriores necessários para a cura do ferimento.

Para se remover o tal espinho de um jeito melhor, seria bom uma anestesia local, uma pinça apropriada, talvez suturar para fechar a ferida, depois tem de limpar e aplicar um antisséptico, em seguida precisa fazer um curativo usando uma pomada cicatrizante e fechar com gaze e esparadrapos. Mas se for um espinho mais complicado, talvez ainda fosse necessária uma vacina antitetânica, um anti-inflamatório e algum analgésico para aliviar a dor.

Essa analogia exemplifica que a simples remoção de alguém, de um grupo ou de coisas que sejam lesivas podem aliviar situações de forma imediata, mas também é possível que deixem feridas abertas que precisem de uma série de ações organizadas e consecutivas para resultar na efetiva resolução do problema em questão.

E se para proceder com a simples remoção de apenas um espinho (segundo as boas práticas da medicina) são necessárias tantos objetos complexos (industrializados), assim como o manuseio correto e experiente deles (profissionais qualificados), imagine para solucionar os problemas políticos, econômicos, estruturais e sociais de um país inteiro.

Outro ponto que também é necessário de se entender é que tudo se desenrola no tempo e que cada fato tem um prazo para alcançar a saturação dos seus efeitos.

Voltemos ao exemplo do pé machucado para ficar claro: A pessoa se feriu com um espinho, em seguida foi ao hospital, removeu o intruso de forma apropriada, foi medicada e teve alta. Mas só isso já curou o paciente por completo? Claro que não! Depois ele ainda vai ter o tempo de cicatrização para se recuperar.

É importante lembrar que se não tirarmos o espinho do pé, também não vamos andar direito…

Então, não basta fazer uma lei e esperar que ações e objetos pulem do papel para se realizar no mundo real! Se fosse tão fácil seria apenas necessário escrever: Que todos sejam honestos, pacíficos e produzam de forma harmônica e colaborativa, dentro de suas diversidades e capacidades, em prol de que a vida humana e o meio ambiente se beneficiem, tornando o mundo cada vez melhor. (Acabei de inventar essa “lei” e até que ficou boa! hehehe…) E tendo escrito ou dito isso, tudo estaria resolvido, mas as coisas simplesmente não são assim!

Ou seja, é necessário que haja o desapego do ego e de seus derivados (o egoísmo e o egocentrismo) para que a mesquinharia não seja o ringue onde se desenrolam as “lutas políticas” e é imperativo que tenhamos soluções realizáveis, postas em prática progressivamente para alcançar objetivos concretos e cada vez maiores e mais importantes.

O ser humano tem uma imensa capacidade para a bondade, mas sua capacidade para a maldade parece ser maior. Também é nítido o enorme potencial da inteligência humana, mas a burrice também parece ser superior. De forma que se realmente queremos um mundo melhor para viver, vai ser preciso ultrapassar as fronteiras delimitadas pelos interesses meramente pessoais e pensar de formas mais amplas, que objetivem os resultados concretos e positivos esperados, sendo muitas vezes necessário o desapego dos próprios gostos e convicções. 

Mas falar é mais fácil do que fazer, não é?! rs.. 

Que todos tenham um ótimo e revigorante final de semana!

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