Um passo depois do outro, mais alguns e uma parada. A respiração ofegante, um cansaço além do que deveria, a avaliação pessoal sobre seu estado e a decisão.
– Não é nada. Só um pouco de cansaço, vou continuar.
Alguns metros para frente e novamente outra parada, desta vez ainda mais ofegante e exaustão. Olha-se para a esquerda, para a direta, vê-se a rua, as pessoas, os carros e ainda longe de casa senta-se para descansar.
Recosta-se onde der, desta vez olha-se o céu e “ele continua a brilhar apesar de tanta barbaridade” para consigo mesmo.
Os raios do astro na verdade agora incomodam mais do que iluminam e a brisa já não lhe aparenta leve e macia, fazendo com que gele o suor exagerado sobre a pele da face ruborizada.
Ao seu lado as sacolinhas do supermercado, tudo nelas está pronto para ser usado no almoço, na janta, no café da manhã… Uma delas vira, os tomates rolam para fora e descem a calçada denunciando a todos que ali há uma pessoa que não passa bem.
Preocupa-se com suas compras, sentado e atordoado, não dá muita atenção àqueles que param para perguntar se tudo está bem, se precisa de um copo d’água, se quer que chame ajuda ou alguém. O que faz, é simplesmente estender sua mão para alcançar aqueles tomates que fogem, enquanto lhe abanam para refrescar o rosto.
Entre uma buzinada, um carro de som anunciando alguma promoção, um cachorro que parou lhe lambeu o pé e logo foi afugentado, e o olhar ao redor que lhe confere a visão de uma aglomeração de curiosos a lhe fitar, somado ao lampejo de consciência que a realidade de tal cena lhe traz, o pânico se instala.
Estado que faz perceber o braço formigando e quando da vontade de gritar pelo aperto da estacada forte no peito, mal se consegue abrir a boca e soprar o ar furioso de sua voz… Nem sequer uma reclamação consegue dar e junto com os tomates, lhe foge a vida.
Nesse momento, ainda que não houvesse nenhum médico presente, todos percebem a situação, alguns lhe estapeiam a face e lhe chamam aos berros, como se fosse um procedimento eficaz de reanimação, mas dado a ausência de respostas a roda de estranhos que apreciava o espetáculo começa a se desfazer, todos indo em direção aos seus afazeres, agora com uma história a mais para contar.
Suas sacolas já não estão mais ali, foram levadas e algum morador bem intencionado que permanece no local abre sua bolsa para atender o celular, cuja ligação de um desavisado rompe o silêncio desse momento cinematográfico.
Qual a conclusão? Nunca sabemos quais serão nossos últimos tomates! Portanto: Enjoy your life (aprecie sua vida)!
Essa crônica foge da argumentação usual dos meus artigos, mas retrata um episódio real muito impactante, descrito aqui com certa licença poética, mas que por isso não pude deixar de representar.
Desejo a todos um excelente final de semana e sugiro “macarrão com molho de tomate” ao som “Here Comes The Sun” de “George Harrison” para o almoço desse domingo!
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2 comentários
“Apreciar a vida e saber vivê-la de forma que quando vc se for, sintam falta e não fiquem aliviados…”
Parece incrível, mas existem pessoas que apreciam tanto a própria vida que vivem como se não houvesse mais ninguém a sua volta.
E aquelas “coisas” que a cercam são degraus para tentar galgar o topo do que pensam ser fundamental…
Pessoas que seguem pisando em outras, impondo suas vontades, maltratando, ingratas e egoístas.
É certo que não devemos viver olhando para trás, mas olhar para o lado de vez em quando faz muito bem para alma, tanto para a nossa como para a do observado, não nos faz cair e podemos encontrar companhia para apreciar a vida e quem sabe, ainda descobrir outros pontos de vista…
Apreciar a vida é um aprendizado que levamos boa parte do tempo fazendo e começando cedo, apreciaremos mais!
Beijos!
Parabéns pelo artigo
É verdade!
Não podemos perder tempo com besteiras… Nunca sabemos quais serão nossos últimos tomates!!!
Vou seguir seu conselho para o findi!!!
Bjsss
=))