E como fica a graça da comédia?

Vivemos em tempos onde andamos “pisando em ovos”…

A última e de fato infeliz “fala” numa tentativa de se fazer “graça” em um programa televisivo de grande emissora nacional e que se desdobrou em processo judicial, demissão e com certeza num desgaste entre o comunicador e seu público, foi a de “Rafinha Bastos” sobre a cantora “Vanessa Camargo”.

Relutei um certo tempo para escrever sobre este assunto, pois vi necessidade no aprofundamento sobre o tema e de uma maior amplitude quanto a visualização dos diversos desdobramentos que essa febre atual do “politicamente correto” pode incorrer.

Sim, considero de profundo mau gosto, inoportuno e muito infeliz (como já disse) o que Rafinha disse ao vivo no CQC e em nenhuma hipótese este artigo é para defendê-lo quanto a sua colocação, mas é para alertar que várias formas de humor podem estar fadadas à extinção por conta do que passarei a expor.

Lembram-se do “Costinha”, “Xico Anísio”, “Ary Toledo”, “José Vasconcelos”, do próprio “Jô Soares” (que teve sua origem ligada ao humor), “Juca Claves”, “Ronald Golias”, “Dani Calabreza”, “Danilo Gentili”, “Paulinho Serra” e de muitos outros nomes ligados ao riso?

Basta recorrer à memória e é muito fácil perceber que todos esses comediantes fazem ou faziam piadas sobre portugueses, turcos, mudos, japoneses, bêbados, comilões, burros, caipiras, cariocas, homossexuais, negros, gagos, nordestinos, políticos e uma série de outras peculiaridades físicas ou comportamentais que dentro do contexto de uma “piada” provocam o riso.

Como ficará o humor daqui pra frente, se toda vez que um comediante pinçar um desses exemplos ele for processado?

Quero salientar que ofensas pessoais, agressões de qualquer natureza e outros desmazelos por vezes acometidos por celebridades devem realmente ser desestimulados e penalizados, mas corremos o risco de um armamento “espiritual” exagerado, onde um interlocutor diz uma coisa e seu ouvinte entende outra, podendo estar inclinado achar maldade onde talvez não haja. Já pensaram nisso?

Parodiando meu amigo blueseiro “Vasco Faé”, trago uma de suas frases: “Somos responsáveis por aquilo que dizemos e não por aquilo que os outros entendem”. Dito e feito!

Portanto, me pergunto se todas essas novas terminologias são realmente adequadas e principalmente se são necessárias e cabíveis ao gênero da comédia, porque sem o riso tudo fica mais difícil e tenho certeza de que não desejamos abrir mãos das diversas situações hilariantes que os talentosos comediantes nos contam para nos alegrar!

Desta forma, proponho essa questão para que não deixemos o riso e os profissionais da comédia padecerem do mau humor de alguns que vêm polemizando todo tipo de manifestação humorística atual!

E apesar de não concordar politicamente em nada com “Che Guevara”, aqui me sinto obrigado a citá-lo pelo cabimento ao desfecho deste artigo: “Hay que endurecerse pero sin perder la ternura jamás” (Há que endurecer-se, mas sem jamais perder a ternura.)

Findo por desejar novamente um ótimo e revigorante final de semana a todos e se possível, com muito riso e descontração!

Veja a imagem da página publicada – JPG:

.