#Protesta_Brasil !!!

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Ao invés de afagar o ego do povo brasileiro, a construção dos estádios deflagrou um secundário fenômeno inesperado na população brasileira. Fez com que as pessoas pudessem “visualizar” o significado de vultosos montantes financeiros, que anteriormente não podiam ter suas dimensões percebidas!

Falar em um milhão, um bilhão ou um trilhão de reais era praticamente a mesma coisa para muita gente, apesar da óbvia diferença numerária e de concretas possibilidades do que cada soma possa fazer. Traduzindo: Esses números escapavam de tal forma à realidade das pessoas, que era impossível relacioná-los com experiências quotidianas para perceber suas dimensões e importâncias.

Notem a trajetória das obras dos estádios: Anunciaram que a Copa viria e o Brasil comemorou. Anunciaram o orçamento para a construção dos estádios e praticamente não houve nada. Iniciaram as construções, reformas e até o momento das inaugurações e dos jogos, nenhuma comoção social aconteceu. O fator determinante no processo foi a entrada da população e da mídia aos faraônicos estádios, o que mostrou (com milhares de fotos e vídeos) o significado dos 33 bilhões de reais investidos, até o momento, nessa estrutura desportiva.

Pronto! Bastou o pontapé inicial na Copa das Confederações e aquela “ficha” (individual e psicológica) que estava equilibrada no “fio da meada” caiu, fazendo com que milhares de pessoas pudessem dimensionar valores e ponderar seus destinos! Não apenas quanto ao montante geral, mas quanto aos parciais também. Um exemplo disso são as milhares de postagens na Internet, onde se comparam as luxuosas poltronas dos estádios aos precários leitos dos hospitais públicos.

Mas se as comparações e analogias relativizando todos os precários serviços públicos (saúde, segurança, habitação, educação, transporte, impunidade…) com suntuosos os estádios promoveram a “tomada de consciência” da população sobre os montantes financeiros. Foram precisos míseros “vinte centavos” para acender a “luz do esclarecimento” sobre a importância da participação popular na escolha do “destino” dos recursos. Para mim, a pergunta que ecoou na cabeça das pessoas foi a seguinte: “Se o governo tem R$ 33.000.000.000,00 (trinta e três bilhões de reais) para investir em jogo de bola, porque quer pegar R$ 0,20 (vinte centavos de real) do “meu”, do “seu”, do “nosso” bolso?!”

Outro ponto de catalisação desse movimento foi a atuação combativa da polícia paulistana frente aos manifestantes na segunda passeata. Novamente há uma pergunta óbvia aqui: “Se nossos governantes têm ciência sobre as verbas públicas, as destinam a questões supérfluas e não usam a força policial (que é vitimada pelo banditismo) contra a marginalidade: Por que mandam a polícia sobre a população civil?!”

Nesse segundo momento, novamente as milhares de fotos, vídeos e a cadeia de relacionamentos virtuais dos internautas fizeram ecoar essa questão em todos os cantos do Brasil, atingindo também brasileiros no exterior e, houve a adesão de uma nação inteira a um movimento que até então era local e uniforme, ou seja: Da cidade de São Paulo e focado no aumento do passe de ônibus. Daí surge a frase “Não é só por vinte centavos!” e passasse a questionar toda a estrutura do país.

Tenho a profunda impressão de que se trata da maior conscientização pública e espontânea da história de um país, na qual a mídia constituída e os partidos políticos (de situação ou de oposição) jamais podiam prever o que aconteceria. Um dado interessante é o da pesquisa Datafolha que mostrou que 80% dos manifestantes não possuem filiação partidária e que repreendiam àqueles que levaram bandeiras e faixas de partidos que para as passeatas. Esse é um dos pontos mais bonitos desse movimento: Ele não é partidário, mas é amplamente político!

Desta forma e por esse motivo (a tomada de consciência sobre os montantes, destinos desses recursos e das escolhas esdrúxulas e não prioritárias dos governantes) é que os numerosos pontos de descontentamento se somaram abrangendo todas as áreas sociais, políticas, econômicas e estruturais do país.

Exemplos: Assistimos ao espetacular julgamento do mensalão e seus efeitos punitivos simplesmente não aconteceram, tendo o contraditório desdobramento da implantação da PEC 37 que pretende amputar o Ministério Público de sua função investigatória. Diariamente vemos o banditismo vitimar a população e a própria polícia. Convivemos com o sofrimento quotidiano das pessoas pessimamente atendidas nos hospitais públicos. Atravessamos horas e horas para ir trabalhar e retornar (se Deus quiser) para nossas casas (alugadas e caras). Padecemos pelo precário sistema de educação, onde além dos baixos salários, os professores também são eventualmente hostilizados pelos alunos. Presenciamos a premiação do “demérito” através das dezenas de bolsas e incentivos assistencialistas enquanto a “classe média” é violentamente achatada e empobrecida. Ou seja: Há um descontrole total do estado sobre os seus próprios braços, então; quiçá do país!

Neste momento assistimos ao grito de uma geração que não teve ídolos, mas que agora pode ser orgulhar de ser sua própria referência. Estamos vendo e ouvindo o povo dizer que “esse país não nos serve mais da forma em que está” e que preferimos o bom funcionamento das estruturas básicas da nação às festas!

Esse é o momento em que as pessoas saíram da virtualidade de suas conexões de Internet para se conectar a pé, nas ruas. Mesmo que isso implique em se arriscar sob os cassetetes, balas de borracha e bombas de gás lacrimogênio. Isso porque vale à pena cuidar de um país, de uma pátria e para que a própria vida, enfim, possa melhorar e caminhar de acordo com os dizeres de nossa própria bandeira: “Com ordem e com progresso!”

Creio ser a maior manifestação coletiva de heterogêneas insatisfações individuais já assistida e, tenho certeza que daqui para frente, o Brasil pode passar a não ser mais “apenas” o país do futebol e que ultrajantes e obsoletas políticas romanas do tipo “pão e circo” podem não contentar mais a população e suplantar a compreensão das prioridades quanto aos investimentos e direcionamentos políticos. Faço votos de que essas centenas de milhares de brasileiros que “despertaram”, não adormeçam novamente sobre suas cidadanias! E espero profundamente que o Brasil finalmente se inaugure para a “idade da razão”!

Vejam: “Em plena Copa das Confederações, no país do futebol, estamos discutindo política!” (risos) E outra coisa: O povo não está “tomando” as ruas, está “retomando”! No militarismo elas eram da polícia e atualmente do banditismo… “Os rostos dos manifestantes expressam o prazer de estar nas ruas!” Por último: A trilha sonora desse movimento não é desse ou daquele artista, é o nosso “hino nacional”! Bravo!

Quanto aos vândalos e saqueadores das passeatas? Trata-se de uma minoria descompromissada com os fins construtivos e produtivos desse importante momento sociopolítico, devem ser combatidos pelos manifestantes sérios e pela polícia para que não manchem esse movimento salutar que se instalou legitimamente!

Findo por desejar a todos um ótimo, pacífico, divertido, revigorante, musical e politizado final de semana!

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