Salve-se quem puder !!!

Na fábula, Alice andava pelo país das maravilhas numa viagem lisérgica entre cogumelos que na realidade devem ter soprado tais fantasias ao autor deste conto e que tanto quanto nele, é também ilusório pensar que hoje existam oportunidades para todos.

Assim deveriam ser as coisas no capitalismo, cujas castas deveriam ser flexíveis e acessíveis aos indivíduos, na ascensão e no declínio, permitindo uma mobilidade nos níveis sociais, o que anda praticamente engessada.

O que deveria reger essa flexibilidade é a meritocracia (sistema em que os méritos prevalecem), onde indivíduos de diferentes níveis de talentos e dotes poderiam, pela observância da sociedade e seu aval, alçar vôo, continuar estagnados e decair.

Acontece que as organizações do sistema produtivo (interessado em lucrar) e do estado (que deveria zelar pelos cidadãos) não levam isso a sério e vou dar dois exemplos disso:

Tenho certeza que todos conhecemos aquele menino franzino, jovem, de origem humilde e que passaria desapercebido na maior parte das vezes, mas que quando pega uma bola, num campo de futebol, corre, dribla, dá olé, chapéu, “põe na gaveta”, encobre, marca, passa, arma, chuta, marca gol e é show.

Estou certo de que existem nesse momento, vários meninos desses que poderiam dar um baile em diversos jogadores famosos. Uns com tanto, outros com tão pouco…

Freqüentemente esses meninos não chegam aos C.T.s dos grandes times porquê têm moradias remotas e também porque não conseguem se desenvolver física e tecnicamente já que não têm acesso a treinamentos modernos e nem sequer a uma alimentação que os permita crescer. Pois é, no Brasil existem crianças subnutridas.

Assim como no caso dos esportes, existem gargantas com elasticidade para atingirem tons vibrantes e com ouvidos primorosos que não estão em indivíduos musicalmente educados para cantarem. Existem mãos ágeis e dedos rápidos, com tendões hiperestendidos, capazes de tocar Paganini (famoso violinista), mas sem instrumento e educação musical.

Para àqueles que passaram da infância e conseguiram participar de um time desportivo, ou tocar um instrumento e cantar até num nível satisfatório (aqui estamos falando de quem tem talento), esses ainda precisarão de oportunidades para se profissionalizarem, o que oferece outros entraves.

Um deles é que o estado não fomenta a cultura e os esportes como deveria e o outro é que a iniciativa privada em geral age apenas conforme preceitos comerciais. De forma que um ótimo guitarrista não terá grandes chances na década em que a macro-mídia tenha elegido o pagode como seu carro chefe. Um ótimo jogador de basquete nunca terá a mesma oportunidade que um jogador de futebol, porque não há semelhantes investimentos para sua modalidade.

O que dizer então de um violonista que não tem incentivos desde o chorinho, a seresta e a bossa nova, ou seja, na melhor das hipóteses há quase cinco décadas.

As Leis de incentivo à Cultura e aos Esportes estão aí e funcionam, mas são tão burocráticas e o acesso pelos proponentes de seus projetos às grandes empresas é tão restrito, que segundo as estatísticas do MinC (Ministério da Cultura) aprovam-se muitos projetos, mas a captação de recursos para eles simplesmente não acontece, mesmo que estes recursos sejam dedutíveis dos impostos dos patrocinadores.

Afinal, um músico tem que tocar, um atleta tem que competir e o fato deles não terem grande desenvoltura com a burocracia, ou não saberem formular seus projetos, não os desqualificam em suas áreas.

Precisamos de um projeto de amplitude nacional que atue com capilaridade, localizando talentos, pinçando-os e direcionando-os para a educação artística, ou o treinamento desportivo, e que viabilize suas produções.

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