Crise na Representatividade

Dilma - Aécio

Quando o Brasil deixou de ser classificado como “subdesenvolvido” e foi reclassificado como um país “desigualmente desenvolvido”, não era brincadeira.

Acredito que seja a melhor definição que já deram para cá e que ela espelha, nas urnas, toda a desigualdade que essa nação de proporções continentais esboça em sua diversidade natural e humana.

Logo após as eleições a UOL publicou uma página (de conteúdo da Folha de SP) que do lado esquerdo traz um mapa mostrando o montante da votação da Dilma – PT (em vermelho) e de Aécio Neves – PSDB (em azul) e ao lado direito há um segundo mapa do Brasil onde é possível selecionar aspectos interessantes e confrontar com as áreas de votação dos candidatos.

Os três itens mais relevantes mostram os perfis do eleitorado conforme a quantidade de recebimento de bolsa família (em marrom), também desenha a tendência eleitoral relativa ao PIB per capito (em verde) e por fim, mostra a inclinação política relacionada ao IDH dos municípios (em amarelo).

Também há informações sobre as votações dos dois partidos que disputaram o pleito, mas são dados mais específicos aos partidários dos candidatos.

Portanto, quero me basear apenas nos itens relativos à população e ao desenvolvimento nacional. Segue o link da página: http://arte.folha.uol.com.br/poder/2014/10/27/a-economia-do-voto

Baseado em dados da Justiça Eleitora, os mapas mostram que a votação para a Dilma é diretamente proporcional à quantidade de recebimento das bolsas família, que ficam em locais onde o IDH e o PIB per capito são inversamente proporcionais.

Já a votação que Aécio Neves teve foi invertida: Ela foi diretamente proporcional aos melhores índices de IDH e do PIB per capito e inversamente proporcional ao recebimento das bolsas família.

Saliento que todo o conteúdo informado deriva da exposição factual, sem o acréscimo de quaisquer opiniões.

Agora vem a opinião do tucano, que em pronunciamento de agradecimento ao seu eleitorado disse que o Brasil se encontra dividido, já a presidente eleita pregou a união em seu discurso da vitória.

O fato é que, através do mapeamento exposto as votações apresentam clara divisão geográfica entre os eleitores, assim como os perfis do eleitorado é antagônico, o que somado aos percentuais extremamente próximos que os candidatos obtiveram nas urnas, vê-se que há uma profunda polarização, se não for de fato uma divisão.

E uma das questões mais interessantes dá-se no âmbito da representatividade que as urnas oferecem aos candidatos nas diferentes regiões. Em cidades do nordeste onde a Dilma teve mais de 70% dos votos (representando a maioria esmagadora daquelas localidades), mas em cidades do sul onde ela teve menos de 25% dos votos (onde ela tem uma rejeição enorme e não representa a vontade do eleitorado local). Uma verdadeira crise de representatividade geográfica que vale para os dois grupos políticos!

Esse fato geográfico contribui para polarizar, de forma regionalizada, a tendência eleitoral do povo brasileiro, que se divide em duas parcelas politicamente antagônicas: A dos satisfeitos (mais ao norte e nordeste) e a dos insatisfeitos, mais ao sul e sudeste (esta última região estando mais dividida).

O que isso quer dizer? Em primeiro lugar são informações que ambos os partidos, que historicamente disputam o poder no Brasil (PT e PSDB), terão de avaliar para definir suas estratégias de governo e de oposição e em segundo lugar, tanto dá legitimidade para Dilma governar por mais quatro anos ao mesmo tempo em que também confere legitimidade para a realização de uma oposição vigorosa.

Isso é ruim para o país? É claro que os eleitores de Aécio estão insatisfeitos enquanto os da Dilma comemoram, mas o certo é que uma democracia não pode acontecer sem que haja a “situação” e a “oposição”, esta última com a atribuição de monitorar, fiscalizar e cobrar resultados e as boas práticas por parte do governo e, eu espero que tenhamos uma oposição realmente rigorosa e vigorosa e, com toda a liberdade de imprensa, como tem todo país desenvolvido, democrático e de estado de direito.

A minha percepção é a de que a população está acordando para a necessidade de se politizar e de acompanhar mais as práticas dos três poderes constituídos (executivo, legislativo e judiciário). Realmente faço votos de que isso esteja acontecendo, porque se “deixarmos rolar”, poderemos ser ludibriados constantemente.

Novamente me despeço desejando a todos um ótimo, divertido e revigorante final de semana, desta vez prometendo que os próximos artigos que virão, retornarão às usuais pautas musicais, porque a vida continua!

Veja a imagem da página publicada – JPG:

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